sábado, 11 de abril de 2015

DISCURSO DA PRESIDENTE DO PUSD





1.ª Conferência Nacional da Juventude Partidária
Bissau 10 a 12 de Abril de 2015

TEMA: "A JUVENTUDE PARTIDÁRIA E O EMPREENDEDORISMO. O TRABALHO PRODUTIVO. MON NA LAMA".
Oradora: Carmelita Pires, Presidente do PUSD.

Digníssimos Deputados,
Senhores Presidentes dos Partidos Políticos,
Caros Colegas, Membros do Governo,
Representantes da Juventude Partidária e Conferencistas,
Sinto-me imensamente grata por poder contribuir para a reflexão e debate de um tema de tão manifesta importância e atualidade: Juventude Partidária e Empreendedorismo.
O nosso futuro coletivo depende, em grande medida, da forma como encaramos o nosso meio ambiente social. Podemos encarar a realidade que nos rodeia como um dado adquirido, assumindo que somos apenas uma minúscula peça de uma enorme engrenagem. Talvez essa atitude seja comum e até justificável em países desenvolvidos, nos quais basta apenas continuar a olear a velha máquina. No entanto, bem conhecemos o estado de indigência a que inevitavelmente conduz uma visão estática da vida social, em países subdesenvolvidos, onde, pura e simplesmente, não há propriamente nada merecedor de ser conservado.
O imobilismo, promovido por uma classe política pouco interessada numa verdadeira mudança, pode provocar a total atrofia da capacidade de evolução positiva da sociedade.
Ora, SE NÃO HOUVESSE UM «BICHINHO» A ROER O HOMEM, nunca teríamos saído da Idade da Pedra. O mesmo «bichinho» atacou virulentamente Cabral, levando-o a recusar o reconhecimento e uma carreira de topo que o regime colonial lhe oferecia. PORQUÊ? Porque seria tornar-se colaborador na conservação de um regime que considerava radicalmente injusto e humanamente desadequado. Poderia ter escolhido outro caminho, entrando para o sistema com a intenção de o mudar por dentro? Talvez. Mas, por vezes, é necessária uma MUDANÇA RADICAL, na própria maneira como encaramos as coisas. Isto faz-me lembrar a competência especial desenvolvida por um peixe do nosso tarrafe: o SALTON. Se não conseguisse «dar o salto» morreria enterrado na lama!
TEMOS DE CONSEGUIR DAR O SALTO E PARA ISSO É PRECISO POR AS MÃOS NA LAMA.
O lema de campanha eleitoral do PUSD foi Pa Lantanda Nô Terra.
Na qualidade de Presidente do Partido, incentivo vivamente a população e, em particular, os jovens a assumir um papel cívico ativo, na condução dos seus destinos. INVECTIVO OS JOVENS A UMA VERDADEIRA MILITÂNCIA PARTIDÁRIA, que não se pode resumir a agitarem bandeirinhas em período eleitoral.
É no terreno, no sentir das populações, no convívio das suas dificuldades e desafios, que podem aprender positivamente a criar as vossas próprias convicções. É que EMPREENDEDORISMO NÃO SE RESUME AO CAMPO PROFISSIONAL. Empreendedorismo deve ser encarado, de uma forma mais banal, como uma atitude, de envolvimento positivo com a mudança que sonhamos ver implementada. Trata-se de encarnar a mudança, de deitar as mãos à obra, mesmo que para isso, seja necessário enterrá-las na lama. SONHAMOS, COMO CABRAL, QUE AS FLORES DA NOSSA LUTA VENHAM A SER MULHERES NOVAS E HOMENS NOVOS.
Compatriotas e Caros Jovens,
Permitam-me que recupere um slogan da campanha eleitoral do meu Partido, que consistia nos 3Cs. CAPACIDADE - COMPETÊNCIA - CONSISTÊNCIA.
O nosso país já viveu tempo demais centrado nos seus políticos.
Não basta pretender ter capacidade, como invariavelmente afirmam. É necessário também que se mostre competência na execução e que os resultados obtidos apresentem consistência.
Julgo que o paralelo entre empreendedorismo e militância é bastante feliz, aproveitando para felicitar os organizadores.
É que o empresário, à diferença do político, tem de reunir os 3C: não lhe basta, por exemplo, ser capaz e competente, se os seus resultados não tiverem consistência, pois é instantaneamente avaliado pelo mercado: se não ganhar dinheiro, pode abandonar a vocação. SERIA FÁCIL SE PUDÉSSEMOS CRIAR EMPREENDEDORES POR DECRETO. Mas se assim fosse, todos o fariam; de facto, é muito mais complicado. É toda uma aprendizagem, que vai da vontade de experimentar, à experiência e à confiança adquirida durante essa prática. É toda uma pedagogia do «impulso», da motivação para essa atitude proactiva, que é necessário despoletar na juventude. Fazer-lhes sentir que podem criar o seu próprio lugar no mundo, se se esforçarem por isso.
HÁ QUE VALORIZAR A CAPACIDADE PARA ASSUMIR RISCOS, de reconhecer, no nosso imaginário social, o elevado estatuto daqueles que procuram VALORIZAR AS SUAS COMPETÊNCIAS, criando nichos de produtividade e de saber fazer capazes de gerar valor acrescentado, onde antes existiam apenas oportunidades por explorar.
A VITALIDADE DAS NAÇÕES MEDE-SE PELA QUALIDADE DO SEU EMPREENDEDORISMO E DA SUA CLASSE EMPRESARIAL. Já na política, precisamos desesperadamente de genuíno empreendedorismo ao nível da militância partidária, que se traduza numa melhor circulação da informação, fazendo chegar aos responsáveis políticos as autênticas aspirações do povo, como preconiza o espírito da Constituição guineense.
Desafio a Juventude do meu Partido a criar um NÚCLEO DE EMPREENDEDORISMO, a todos os níveis, de cuja reflexão e dinâmica o Partido e os próprios militantes possam vir a beneficiar.
Ainda neste contexto, gostaria de alertar para os riscos de uma visão do desenvolvimento assente na exploração desenfreada dos recursos naturais, pela forte dependência económica que cria em relação às flutuações das cotações das matérias-primas. Preferimos, à ganância de querer explorar e gerar receitas a qualquer custo, UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO MAIS CONSCIENTE E HARMONIOSO, atento à igualdade de oportunidades, à coesão social e, por essa via, à sua sustentabilidade para as gerações futuras.
Compatriotas e Nossa Juventude Partidária
Não poderia terminar sem uma palavra de apreço para com a nossa Jovem diáspora. A coragem de partir para um país estrangeiro à procura de uma situação de vida melhor para nós e para a nossa família é já, em si, um grande ato de empreendedorismo. Desafiamos aquelas e aqueles que já o fizeram uma vez, que arrisquem de novo, que se interessem pelo destino da Guiné-Bissau, beneficiando-nos com toda a experiência que entretanto adquiriram, devolvendo-a ao serviço da terra.
Perante a enorme tristeza que sentimos quando vemos cenas como aquelas que se passam frequentemente em Lampedusa, ocorre-nos pensar: SERÁ ESTA A ÚNICA ESPERANÇA DA NOSSA JUVENTUDE? Não poderíamos canalizar toda essa energia, colocando o seu empreendedorismo ao serviço do país, onde tanta falta nos faz?
Concluo apelando a todas e todos os guineenses no sentido de darem um especial valor social aos empreendedores, de se promover o respeito e a elevada consideração que lhes é devida. Isso faz parte da grande mudança que pretendemos para a nossa terra. Implica UM CORTE RADICAL AO NÍVEL DA MENTALIDADE PREVALECENTE, bastante perniciosa, para evitar que se insinue nas expectativas dos jovens, levando-os a acreditar que só terão futuro entrando para a política e para o aparelho estatal, perpetuando a cultura do proveito pessoal em detrimento da coisa pública.
É VITAL MOSTRAR AOS JOVENS QUE É POSSÍVEL E ALTAMENTE DESEJÁVEL UM COMPROMISSO.
É preciso abandonar a mentalidade que nos faz desmerecer as coisas e as pessoas da nossa terra.
A esperança de uma mudança autenticamente positiva reside na cooperação, na afirmação identitária e numa nova cultura política. E a insatisfação própria da juventude é o nosso maior trunfo para essa revolução tranquila!
Muito obrigada a todas e a todos pela vossa atenção.